02/08/2011

Eu 2.0

Como é bom estar de volta. De volta ao blog, porque eu não fui pra lugar nenhum na verdade, fiquei as férias inteiras aperfeiçoando meu sono, só, com exceção da última semana em que eu fiz um cirurgia ocular -por isso o infame título- pra corrigir um caso leve/moderado de estrabismo, era isso ou começar a fazer vídeos pro youtube e virar uma pseudo-celebridade.

mas eu não tinha uma câmera

Então peguem um cobertor, um copo de chocolate quente fumegante e todo o amor e imaginação que vocês depositam em seus coraçõezinhos porque o titio aqui vai contar uma fábula pra vocês.

Eu me esforcei esquizofrenicamente pra lembrar de todos os fatos, mas como minha memória é pior que a de uma maçaneta lobotomizada não posso prometer que eu não tenha esquecido de alguma coisa. Enfim...

Segunda-feira, dia 25 de Junho de 2011, mais conhecido pra mim como, o dia em que minha jornada pra enxergar como um ser humano normal começava. Acordar foi uma tarefa pesada já que eu tinha que estar no hospital às 9:20 e tive que acordar lá pras oito e, quando você está acostumado a dormir às quatro da manhã e acordar às cinco da tarde, isso pode acabar se tornando um estorvo.

Entrei no carro e coloquei The Dillinger Escape Plan pra tocar no meu iPod, com participação especial de Mike Patton, numa forma de terapia pré-cirurgia, pra relaxar e descontrair.

terapia

O lugar onde fiz a cirurgia era diferente de onde eu fiz a consulta, portanto eu não tinha ideia de onde seria a parada, quando eu saí do carro eu fiquei olhando em volta, procurando o prédio mais alto que tinha por ali, porque pra mim é assim que as coisas funcionam, quanto mais alto é o edifício, mais alto é também o nível de qualificação e preparação das pessoas que trabalham nele, portanto, seguindo esse conceito, a ala médica da Estação Espacial Internacional é melhor do que um beco escuro com cheiro de mijo de mendigo povoado pelo povo toupeira.

Vemos aqui o ápice em cuidado hospitalar ao lado de seres subdesenvolvidos

No final das contas acabou que não era o prédio mais alto, mas ainda assim de tamanho satisfatório, só que meu nível de alerta aumentou, a imagem de um médico despreparado injetando vaselina em mim ao invés de sedativo me pareceu menos improvável.

Não tive que ficar esperando na sala de... espera... por muito tempo, em menos de cinco minutos eu fui chamado, fez com que eu me sentisse importante. Depois de passar por um corredor estreito eu me encontrei num cubículo assinando vários papéis que uma loirinha me entregava, se eu tivesse parado pra ler alguma coisa que estavam naqueles papéis que ela vomitava em cima de mim, eu provavelmente teria encontrado algum motivo pra mudar de ideia, do tipo:

"Não nos responsabilizamos por nada de errado que possa acontecer com você durante a cirurgia, como, pequenas lesões causadas por algum descuido, perda de algum membro, uma equivocada mudança de sexo, sodomia. Caso ocorra qualquer tipo de imprevisto a culpa é provavelmente sua." esssas coisas.

bastardos
Depois de assinar tantos papéis até dar gangrena no braço subi para o segundo andar onde eu realizaria a cirurgia, depois de entrar numa outra ala e responder à algumas perguntas eu tive que tirar minhas roupas e colocar o modelito primavera-verão do hospital, eu fiquei de meias, cueca, com uma touca, um short, que de tão pequeno me baniria permanentemente de todas as praias brasileiras por atentado violento ao pudor, e a enfermeira também me deu um roupão branco cujo tinha um mecanismo rudimentar pra fechar (o troço dava a volta em mim e na ponta amarrava com um cadarço).

Fiquei numa salinha sozinho esperando eles fazerem os preparativos até ser chamado, ao entrar na ala de cirurgia eu tive uma surpresa muito agradável, vocês sabiam que as cirurgias são aplicadas no Círculo Polar Ártico? Pois é, a desgraça do lugar estava a baixo de zero, até os malditos médicos estavam reclamando, é mandatório eu sofrer de hipotermia ao realizar qualquer procedimento médico? Pode me chamar de louco, MAS EU ACHO QUE NÃO!

Bem vindo, pode se deitar aqui, cuidado com a morsa

Após mudar de sala por motivos que a ciência nunca vai desvendar eu finalmente me deitei e estava a poucos instantes de ter meus olhos mutilados e costurados. A enfermeira grudou um tubo de oxigênio no meu queixo e nesse instante entra o anestesista, que com o objetivo de diminuir a tensão do ambiente, começa a contar piadas, do tipo, "depois que você tomar isso aqui, vai ficar tonto como se tivesse tomado dez latas de Skol", não fazia sentido ele dizer isso porque eu tinha acabado de falar pra ele que eu não bebia, mas ele parecia sofrer de algum déficit de atenção ou albinismo mental, porque  ele saiu da sala enquanto me explicava o procedimento, não apenas saiu mas, saiu falando sozinho... dava pra escutar ele do corredor. 

Cerca de um minuto e meio depois eu comecei a sentir o efeito e acabei dormindo (ou alguém jogou um tijolo na minha cabeça, porque eu não lembro de nada que aconteceu depois disso). Devo ter acordado cerca de uma hora mais tarde, eles ainda estavam terminando de torturar meu olho esquerdo, ocasionalmente escorria um liquido pelo meu rosto e eu não sabia se eram lágrimas, sangue ou meu cérebro, pelo menos eu não estava sentindo mais nada, eles podiam estar usando uma furadeira industrial em mim que eu não teria percebido.

sutileza é para os fracos

Como um dos olhos sofreu uma anestesia mais violenta, eu tive que colocar um tampão até o dia seguinte e eu não conseguia abrir o outro ainda. Eu tive que sair do hospital guiado pela minha mãe, fui tateando com os pés até chegar no carro. Dormir foi fácil, eu estava tão destruído que dormi o dia inteiro.

No outro dia eu tive que abrir meu olho direito com os dedos, era tanta remela, pus e substâncias que eu nunca tinha visto antes que me deixaram meio traumatizado. Sem falar no pequeno desconforto que é ter uma linha no seu olho roçando nas suas pálpebras por dentro, tinha também as linhas dentro do seu olho. Meus olhos estavam tão vermelhos que pareciam um pedaço de carne, alías, estão assim até agora, mas eu não tenho mais vontade de arrancar eles com as próprias mãos num surto de loucura.

mais ou menos assim

Com o tempo meus olhos vão "absorver" os pontos, tipo a Symbiote do Venom absorvendo o Homem-Aranha, o que na minha opinião é foda pra caralho.

***

Termina aqui a história do "Dia em que deixei dilacerarem meus olhos". Deixei pra fazer a conclusão da lista depois, se não escrevesse esse artigo logo eu ia acabar esquecendo de tudo, mas a conclusão já está feita pela metade, vai sair essa semana ainda, eu espero de coração que vai pelo menos.



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